Anualmente consulto o oftalmologista. Há muitos anos, é sempre o mesmo. Na época em que tinha que aferir se as lentes dos meus óculos ainda estavam boas, soube que o médico encontrava-se no exterior. E que, por um ano, ficaria ausente do país. Então, marquei consulta com outro especialista. Mas não achei nada confortável consultar com um desconhecido. O médico escolhido para a consulta tinha seu consultório instalado dentro de uma clínica oftalmológica, localizada num dos bairros nobres da cidade. Na recepção da clínica, fui atendido por uma elegante recepcionista. Ela pediu-me que aguardasse a chamada. Foi o que fiz. Logo o meu nome foi pronunciado por uma delicada voz feminina. Entrei no consultório do médico desconhecido. Um homem alto fez sinal para que me sentasse. A cadeira era parte de uma peça única de duas cadeiras, uma frente à outra, tendo ao centro um suporte para a colocação do queixo. O médico pediu-me para colocar o queixo no suporte. Em seguida, olhou os meus olhos, um de cada vez, através de uma lente luminosa. Depois, dirigiu-se à escrivaninha ao lado, onde escreveu alguma coisa num receituário. Entregou-me o papel e indicou-me a porta. Já no corredor, ouvi, pela primeira vez, a voz do oftalmologista: "o laboratório para os exames fica no andar de baixo!". Saí do consultório, sem ir ao laboratório. Já acomodado no carro, e ainda espantado ante o atendimento do médico, concluí que a "síndrome do SUS" já havia atingido os usuários dos planos de saúde - para meu azar.
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