O corpo altivo Roxo ferido capengante. A alma livre leve leve ela daqui. O enterro Cheio amargura Devaneio
Ironia. A vida vazio. Que
é vento, e que passa, e que já passou antes, e que passará depois. E a ti o que
te diz?
“O
que é ser adulto” têm me passado pela cabeça. O pior, ao menos no meu caso, é
que eu me sinto exatamente igual a como me sentia quando criança. De certo
modo, sempre esperei que algo fosse mudar, que talvez fosse um dia acordar e me
sentir de um jeito diferente, adulto. Talvez, na verdade, eu me sinta até um
pouco mais criança: os anos passam e eu vou ficando menos ranzinza e menos
sisudo.
A
única mudança tangível é a sensação permanente de que o tempo passa e eu
também. Antes o famoso verso de Apollinaire, “les jours s’en vont, je demeure”
(”os dias passam, eu permaneço”), tinha outro sentido: as coisas à minha volta
é que passam, eu continuo aqui, perfeitamente jovem, com todas as
possibilidades do mundo. Nem tanto. Já sei que há muitas coisas que não farei, mas
o melhor é ter conseguido perceber que na verdade eu não queria fazê-las.
Por
volta dos 26, 27 anos, adquiri uma espécie de “mentalidade pagã” que incluía a
percepção constante de que a juventude, que para mim ainda é o estado natural,
era na verdade uma bênção. Depois parei de dar importância a isto e hoje só dou
importância ao tempo. O que estou fazendo com este tempo que me é dado? Quanto
tempo perdi, dissipei? Claro que agora eu poderia sacar uma pérola de sabedoria
de PowerPoint e dizer que nenhum momento é perdido, porque todos contribuíram
para aquilo que sou, mas isso é uma bobagem sem tamanho. Perdi tempo sim e
poderia ter me tornado alguém muito melhor se tivesse usado meu tempo de modo
diferente. Hoje esta questão, na verdade uma questão de economia, é muito
premente, como não era há 10, 5 ou mesmo 2 anos.
Não
posso dizer que estou nem exatamente bem nem exatamente mal. Não lamento tantas
das coisas que fiz e que não fiz, nem estou particularmente satisfeito. Neste
ponto, falando um pouco como o pagão que não sou, posso trazer Aristóteles: só
dá para saber se alguém é feliz depois que essa pessoa morreu. Não me parece
que um estado de satisfação essencial (vejam, eu disse essencial, e não
completa) seja algo propriamente humano. Como não querer ser melhor? Como não
ter qualquer inquietação? Por isso sempre me sinto estranho diante de perguntas
como “você é feliz?” Se eu morrer e for para o céu, serei feliz. E vocês
poderão avaliar, se não acreditarem em nada disso, se a minha vida aqui na
terra foi feliz.
E,
bem, caso você que me lê sinta um imenso desejo de me dar um presente, pode consultar…
Pois sou um guardador de rebanhos. O rebanho é os meus pensamentos e os meus
pensamentos são todos sensações. Penso com os olhos e com os ouvidos e com as
mãos e os pés e com o nariz e a boca. É
não tenho a mania de me intrometer na vida alheia, e de achar que a política é
a forma adequada de corrigir a cultura.
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