Há coisas que só digo para mim. Não que
precisasse dizê-las, já que posso apenas pensar. É que falar formaliza as coisas
de um jeito para poder organizá-las e então entender. Mas é provável que se me
calasse, ainda sim me entenderia. O que digo para mim mesmo parece ser secreto,
tem ares de sagrado. Desconsidera que qualquer um, mais disposto e atento, pode
perceber o que não digo. Talvez muitos sem muito esforço conheçam o que chamo de
segredo. Fico aqui a proteger palavras que são públicas, que podem encontrar um
par. O que digo no meu silêncio, guardo para quem? O que são essas coisas que
ninguém pode saber? Parece que são exatamente as coisas que nos diferenciam,
tudo que nos é único, escondido em palavras ditas na solidão. Quem sabe todo
diário exista para ser lido e que façam isso a tempo para descobrirem a pessoa
maravilhosa que podemos ser.
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