domingo, 23 de dezembro de 2012

Estou formado em direito ...fim de 5 anos de luta....!!

...agora, meu amigo, você senta e chora... E se você não sabe o motivo, leia o pequeno texto que escrevi abaixo. Ele sintetiza tudo o que eu estou sentindo neste exato momento. Já adianto em minha defesa: há uma alta dose de ironia e sarcasmo no texto. (Temis, deusa grega da justiça e maior vítima do direito atual. Parafraseando Tobias Barreto, eis nossa justiça, não mais peituda e vendada, mas sim, peitada e vendida...) - Finalmente, livre! É o que gritava o espírito do recém-formado bacharel em direito. Já sua mente, um pouco menos polida, urrava em alto e bom som “Acabou essa luta! Hahahaha!”. E não poderia ter sido outra sua reação, afinal, os longos e tortuosos 5 anos de extrema labuta acadêmica – e nas horas vagas, etílica – haviam por fim acabado, e ele finalmente se tornara...O que ele se tornara mesmo? Ah, sim... um bacharel... em direito. Viva......A euforia inicial o abandonara. O súbito choque de realidade esvaziara seu ânimo tão rapidamente quanto um universitário o faria com sua caneca de chopp. E só lhe restava agora a ressaca dos recém-formados, pois no fundo ele sabia que apenas no direito ocorre um fenômeno curioso após o término da faculdade: o recém-formado torna-se, com sua conquista, menos do que era antes. O conceito lhes parece estranho? Permita-me explicar. Após a dura batalha pela sobrevivência universitária e escraviária, o recém-formado na secular profissão jurídica sente como se a faculdade lhe desse um tapinha de “boa sorte” nas costas, enquanto lhe aplica o fatídico “pé na bunda” que o introduzirá no selvagem mercado jurídico de trabalho. Confuso, o recém-enxotado em direito, após as cerimônias de encerramento de praxe, se dirige ao seu antigo emprego, onde é informado por um comunicado de seus chefes que, “apesar do notável esforço e comprometimento do estagiário com seu serviço, o escritório não está preparado para receber mais um membro em seus quadros já inchados em virtude da estagnação do mercado, e, infeliz e lamentavelmente, não será possível sua manutenção no rol dos escraviá estagiários da empresa”. E o mais engraçado é que, no dia seguinte, o recém-desempregado sempre descobre pela fofoca nos egroups que o filho do melhor amigo do dono do escritório acabou de ser promovido de estagiário a advogado-sócio de fato, e seu irmão menor tomou sua antiga vaga no setor de “duplicação de documentos e protocolo de emergência” – sendo, é claro, rapidamente promovido para a chefia do local em tempo recorde. Quanto aos estagiários que trabalham arduamente na rede pública, estes sequer se preocupam com tais problemas... Nenhum deles precisa ser um detetive pra saber de antemão por quem, quando, e como serão sumariamente exonerados de seus cargos - “Foi o departamento de RH - no fim do contrato - com o comunicado interno”. Então, o que acontece é que não importa se você trabalhava no Tossano, no Adeverest, no Eucalipto Neto ou em qualquer órgão público... A questão é que você VAI ser um desempregado, e ponto final! “Bem, mas eu tenho UM DIPLOMA! Eu sou FORMADO!” Clap, clap, clap... Parabéns, campeão! Só que não te explicaram uma coisinha mínima...UM BACHAREL EM DIREITO NÃO PODE FAZER ABSOLUTAMENTE NADA! Zero, nada, niet! É isso aí, amigão... Quer prestar um concurso público? Já imaginou? Defensor Público, Promotor de Justiça, Magistrado, Procurador... Bons salários, dá pra comprar aquele carrão que você sempre quis, encher ele de loiras – quentes e geladas – ou curtir aquela viagem com tudo caro – não errei na grafia – em um cruzeiro pela Europa8. Ótimo... Mas... Ah, que pena, não tem OAB? Precisa, né... Hey, mas não fique triste, eu fiquei sabendo que tá abrindo um concurso ótimo pra escrevente do Tribunal de Justiça...Quer advogar? Bem, você pode... Aliás, se quiser, pode inclusive se inscrever no convênio da Defensoria Pública que eles arrumam causas pra você! Moleza, hein? Não precisa nem correr atrás... A famosa tática "Maomé". Só tem uma coisinha, uma exigenciazinha boba... Precisa de OAB!É is so camarada, O-A-B! Não, isso não é um absorvente feminino... É um pedacinho de plástico que te classifica como advogado. Como arrumar? É simples, é só fazer uma provinha com a matéria de TODO o seu curso. Isso mesmo, eu disse TODO O CURSO!...achou que ia se livrar dos debêntures e das enfiteuses? Pois é, a vida não é só feita de Alegações Finais, amigão.E se você acha que vai se livrar disso simplesmente alegando que nunca vai advogar na área cível, pense novamente. Aliás, você é um malandro. É o tipo de cara que pediria aprovação compulsória em Matemática no colégio devido à difusão em larga escala de calculadoras a preços módicos. O senhor é um fanfarrão!
Enfim, essa é a realidade do bacharel em direito: um cara que, em contraste com sua vida anterior, não tem mais emprego, não pode exercer a profissão pra qual estudou durante 5 longos anos (ou mais) de sua vida, não paga mais meia no cinema, não tem direito a passe escolar pra ônibus e metrô...Como diria a inscrição nos portões infernais de Dante:“Aqueles que aqui entrarem, percam as esperanças” Então, pra você, que achou que fazendo direito iria sair da faculdade dirigindo um Aston Martin com uma loiraça do lado – e possivelmente uma morena e uma ruiva no banco de trás – ou, no caso das mulheres, que você seria a loira “tunada” no volante de um, e que sua vida se resumiria a praia, cerveja e muita curtição, sou forçado a lhe informar o seguinte:

Você caiu na pegadinha do direito! Ráaaaaaa!

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