O amor tem mais do que um ponto em comum com a convicção religiosa:
exige uma aceitação incondicional e uma entrega total. Assim como o fiel
que se entrega a seu Deus participa da manifestação da graça divina,
também o amor só revela seus mais altos segredos e maravilhas àquele que
é capaz de entrega total e de fidelidade ao sentimento. Pelo fato de
isto ser muito difícil, poucos mortais podem orgulhar-se de tê-lo
conseguido. Mas, por ser o amor devotado e fiel o mais belo, nunca se
deveria procurar o que pode torná-lo fácil
Alguém que se apavora e recua diante da dificuldade do amor é péssimo
cavaleiro de sua amada. O amor é como Deus: ambos só se revelam aos seus
mais bravos cavaleiros. Da mesma forma critico o casamento
experimental. O simples fato de assumir um casamento experimental
significa que existe de antemão uma reserva: a pessoa quer
certificar-se, não quer queimar a mão, não quer arriscar nada. Mas com
isto se impede a realização de uma verdadeira experiência. Não é
possível sentir os terrores do gelo polar na simples leitura de um
livro, nem se escala o Himalaia assistindo a um filme. O amor custa caro
e nunca deveríamos tentar torná-lo barato. Nossas más qualidades, nosso
egoísmo, nossa covardia, nossa esperteza mundana, nossa ambição, tudo
isso quer persuadir-nos a não levar a sério o amor. Mas o amor só nos
recompensará se o levarmos a sério. Considero um desacerto falarmos nos
dias de hoje da problemática sexual sem vinculá-la ao amor. As duas
questões nunca deveriam ser separadas, pois se existe algo como
problemática sexual esta só pode ser resolvida pelo amor. Qualquer outra
solução seria um substituto prejudicial. A sexualidade simplesmente
experimentada como sexualidade é animalesca. Mas como expressão do amor é
santificada. Por isso não perguntamos o que alguém faz, mas como o faz.
Se o faz por amor e no espírito do amor, então serve a um Deus; e o que
quer que faça não cabe a nós julgá-lo pois está enobrecido
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