Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo, Espécie de acessório ou sobressalente próprio, Arredores irregulares da minha emoção
sincera, Sou eu aqui em mim,
sou eu. Quanto fui, quanto não
fui, tudo isso sou. Quanto
quis, quanto não quis, tudo isso me forma. Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim. E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco
inconseqüente, como de um sonho
formado sobre realidades mistas, de
me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico, Para ser encontrado pelo acaso de quem se
lhe ir sentar em cima. E, ao
mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua, Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.
Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um
pouco dolorosa, Como de um
acordar sem sonhos para um dia de muitos credores, De haver falhado tudo como tropeçar no
capacho, De haver embrulhado
tudo como a mala sem as escovas, De
haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida. Baste! É a impressão um
tanto ou quanto metafísica, Como
o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar, De que mais vale ser criança que querer
compreender o mundo. A
impressão de pão com manteiga e brinquedos. De um grande sossego sem Jardins, de
uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela, num ver chover com som lá fora. E não as
lágrimas mortas de custar a engolir. Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais, O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro, A quem tinem as campainhas da cabeça. Como
chocalhos pequenos de uma servidão em cima. Sou eu mesmo, a charada sincopada. Que ninguém da roda decifra nos serões de província. Sou eu mesmo, que
remédio!
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